26/01/25

Leituras

 



Livro:

Autor:

Comecei o ano com dois livros do universo da língua portuguesa. O primeiro, "toda a gente tem um plano" no âmbito do clube de leitura "literacidades". Para melhor descrição deste livro recorri à sinopse da Bertrand:

Esta é a história prodigiosa e trágica de Calita, um rapaz negro que tem um plano para a vida. Um retrato do que não vem na literatura bem-comportada -e que nos deixa sem respiração.

Depois de anos em Espanha, onde ganhava a vida como dançarino e DJ, entre outras atividades, Carlos, aliás Calita, regressa a Portugal mas não a tempo de se reencontrar com a tia Lena, a senhora que o criou. Não tem família, não tem amigos, não tem casa. Apenas o sonho vago de juntar dinheiro para comprar uma mesa de mistura e voltar a trabalhar como DJ. É acolhido por uma antiga vizinha que o ajuda a recomeçar e o põe em contacto com um pastor brasileiro e o fiel ajudante deste, Pula-Pula.

Aos poucos, Calita - que também tem outro nomes ao longo do romance - reconstrói a vida a trabalhar na cozinha de um hotel em Lisboa e na companhia do cão, Trovão. E quando parece estar próximo de concretizar os seus sonhos e cumprir o plano que traçou, a tragédia, as recordações e uma enorme quantidade de incidentes vêm bater-lhe à porta e devolvê-lo à estaca zero.

Toda a Gente Tem um Plano é a história trágica deste rapaz negro que cresceu sem os pais e que tem o dom indesejado de estragar todas as possibilidades de felicidade. Da infância em casa da tia Lena e do filho desta, Pedro Mulato, por onde circulavam figuras como o professor Pretérito Perfeito, a macumbeira Rosa Quivunge e o enigmático D. Pacas, sem esquecer a suposta namorada, Eneida, até à vida adulta e selvagem nas noites de Benidorm, passando pela adolescência nas ruas e a fuga do reformatório, foram muitas as vezes em que Carlos tocou a felicidade com a ponta dos dedos apenas para aprender que toda a gente tem um plano até a vida ruir - e os estilhaços lhe acertarem em cheio no coração.

Foi o primeiro livro que li do Bruno, é um romance entusiasmante, quase todos nós nos cruzamos com histórias semelhantes de amigos, família, ou simplesmente de conhecidos, nem sempre com finais felizes. Bruno Amaral nasceu em 1978 na cidade de Lisboa, e entre vários prémios recebidos, destaco o prémio José Saramago 2015.
É com certeza um escritor para continuar a ler.

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Livro:

Autor:

Este segundo livro de Paulina Chiziane, também primeira leitura e no âmbito do Clube de leitura da Casa da Cultura de São Martinho do Porto, é um manancial de relatos da vivência das mulheres moçambicanas e o seu papel numa sociedade dominada ainda, pelo poder machista dos homens. Escrito numa linguagem simples, transportam-nos para um universo em que ainda existe muito terreno a desbravar para que as mulheres tenham o seu papel fundamental na sociedade e na história. Deixo aqui também a sinopse publicada na Bertrand:
 
Rami, casada há vinte anos com Tony, um alto funcionário da polícia, de quem tem vários filhos, descobre que o partilha com várias mulheres, com as quais ele constituiu outras famílias. O seu casamento, de «papel passado» e aliança no dedo, resume-se afinal a um irónico drama de que ela é apenas uma das personagens. Numa procura febril, Rami obriga-se a conhecer «as outras». O seu marido é um polígamo! Na via dolorosa que então começa, séculos de tradição e de costumes, a crueldade da vida e as diferenças abissais de cultura entre o norte e o sul da terra que é sua, esmagam-na.

E só a sabedoria infinita que o sofrimento provoca lhe vai apontando o rumo num labirinto de emoções, de revelações, de contradições e perigosas ambiguidades. Poligamia e monogamia, que significado assumem? Cultura, institucionalização, hipocrisia, comodismo, convenção ou a condição natural de se ser humano, no quadro da inteligência e dos afetos? Paulina Chiziane estende-nos o fio de Ariadne e guia-nos com o desassombro, a perícia e a verdade de quem conhece o direito e o avesso da aventura de viver a vida.

Niketche, dança de amor e erotismo, é um espelho em que nos vemos e revemos, mas no qual, seguramente, só alguns de nós admitirão refletir-se.

Alguma citações do livro Niketche: 

Um marido em casa é segurança, é proteção. Na presença de um marido, os ladrões se afastam. Os homens respeitam. As vizinhas não entram de qualquer maneira para pedir sal, açúcar, muito menos para cortar na casaca da outra vizinha. Na presença de um marido, um lar é mais lar, tem conforto e prestígio. (Pag.11)

A minha vida é um rio torto. No meu rio as águas pararam no tempo e aguardam que o destino traga a força do vento. No meu rio, os antepassados não dançam batuques nas noites de lua. Sou um rio sem alma, não sei se a perdi e nem sei se alguma vez tive uma. Sou um ser perdido, encerrado na solidão mortal. (Pag.17)

Sou um rio. Os rios contornam todos os obstáculos. Quero libertar a raiva de todos os anos de silêncio. Quero explodir com o vento e trazer de volta o fogo para o meu leito, hoje quero existir. (Pag.17)

Não sou possessiva. Venho de uma terra onde a solidariedade não tem fronteiras. Venho de um lugar onde se empresta o marido à melhor amiga para fazer um filho com a mesma felicidade com que se empresta uma colher de pau. Na minha comunidade o marido empresta uma esposa ao melhor amigo e ao ilustre visitante. Na minha aldeia, o amor é solenemente partilhado como uma hóstia. (Pag.79)
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(Observação: A referência das páginas diz respeito à edição do Circulo de Leitores, Dezembro 2003).

18/01/25

Cara de Espelho

 




Cara de Espelho” é o encontro de alguns nomes que marcaram a música portuguesa nos últimos anos. São as palavras e composições de Pedro da Silva Martins (autor e compositor de Deolinda, Ana Moura, António Zambujo, Lena d'Água), as construções de instrumentos de Carlos Guerreiro (Gaiteiros de Lisboa, José Afonso, Fausto, GAC), o baixo de Nuno Prata (Ornatos Violeta), as guitarras de Luís J Martins (Deolinda, António Zambujo, Cristina Branco) e as percussões de Sérgio Nascimento (Sérgio Godinho, David Fonseca, Humanos, Deolinda) e a voz profunda de Maria Antónia Mendes (A Naifa, Señoritas). Servindo como porta de entrada para a sonoridade do grupo, os dois singles de estreia ‘Corridinho Português’ e ‘Político Antropófago’ desvendaram uma identidade sonora e poética devedora da riqueza da música popular e tradicional portuguesa, da acutilância crítica dos seus poetas e cantautores, mas os olhos postos num futuro que exige renovação, intervenção e compromisso com o mundo.

Voz: Maria Antónia Mendes | Sopros, Percussões: Carlos Guerreiro | Guitarras: Luis J Martins | Guitarras: Pedro da Silva Martins | Baixo: Nuno Prata | Bateria, Percussões: Sérgio Nascimento | Som: Nélson Carvalho | Iluminação: Nuno Salsinha e Miguel Ramos (Tela Negra) | Cenário: Carla Martinez | Técnicos de Palco: Dário Alexandre e Pedro Borges | Road Manager: André Silveira

Produção: Locomotiva Azul

Fonte: Foto & Texto: CCC
Caldas da Rainha 18 Janeiro 2025 / 21h30

11/01/25

Teatro


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Fotos: Margarida Araújo 

Exibida pela primeira vez no Palácio de Versalhes em 1668, “Jorge Patego ou o marido humilhado” é uma comédia negra, hilariante e divertida, que incorpora a dimensão trágica de personagens vítimas de traição, de ambições arrivistas, de intriga palaciana, da hipocrisia que representam, das suas afectações, da condição social e singular em que se encontram como pássaros a cantarolar no interior de uma gaiola. Diz Fernando Mora Ramos: «O mais complexo em “Jorge Patego ou o marido humilhado” são o próprio Patego e Angélica, ele sofrendo um tipo de cisão interior, experimentando uma “dor” desconhecida num tipo que pensa que o dinheiro compra tudo e ela “sonhando” com uma vida que Patego nunca lhe dará e a que os pais a obrigam.»

Jorge Patego, camponês novo-rico, desposa uma fidalga com a intenção de ascender socialmente. Filha de uma nobreza rural em decadência, Angélica, a jovem mulher de Patego, não se conforma com o destino que os pais lhe arranjaram. Foi moeda de troca num negócio de que tanto ela como o marido saíram a perder. Enamorada de um visconde com posição na corte, sonha com cortesias e galanterias que a gente da província desconhece. Patego tudo fará para provar a infidelidade de Angélica, que com habilidade e astúcia escapa sucessivamente às goradas tentativas de prova. Patego vê-se assim obrigado a aceitar o seu destino de marido-corno, vítima da pretensão de ascensão social que lhe trouxe mais infortúnios do que alegrias.

Com encenação de Fernando Mora Ramos, tradução e dramaturgia de Isabel Lopes, “Jorge Patego ou o marido humilhado” conta com cenografia construída por Joel Pereira a partir do cenário desenhado por José Serrão para “Mandrágora”, de Niccolò Machiavelli, luz de Hâmbar de Sousa e desenho de som de Francisco Leal. Interpretação a cargo de Fábio Costa (Jorge Patego), Mafalda Taveira (Angélica), José Carlos Faria (Senhor Vilar de Tolos), Isabel Lopes (Senhora de Vilar de Tolos), Hâmbar de Sousa (Clitandro), Beatriz Antunes (Claudina), Nuno Miguens Machado (Manhoso) e Tiago Moreira (Perdigoto).

Editado em livro numa parceria do Teatro da Rainha com a editora Companhia das Ilhas, “Jorge Patego ou o marido humilhado”, de Molière, estará disponível para aquisição no local do espectáculo. A tradução de Isabel Lopes é agora um material moldado para o palco. A graça e o espírito originais da peça, o seu humor, ganharam a nossa actualidade sem perder o vínculo à língua molieresca de raiz.

Fonte do texto: ARRE - Teatro da Rainha

08/01/25

Instante Fotográfico











 

Você é meu Raio de Sol

 


A história afetuosa do romance ao longo da vida entre os adolescentes Tom e Joe, desde seu primeiro encontro humilde na década de 1970, em um mundo que estava apenas despertando para a homossexualidade, até o pôr do sol de seu tempo juntos décadas depois, 'You Are My Sunshine' é uma história de amor arrebatadora, sentimental e apologética, ambientada no interior da Grã-Bretanha. Um romance para as eras, através das eras - aproveite a luz gloriosa de 'You Are My Sunshine'


Fonte do texto: imdb
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You Are My Sunshine é um filme a que não se pode ficar indiferente, sobretudo porque conta a história de dois seres humanos que escolheram viver em felicidade desafiando o preconceito social. As pessoas são livres de terem as suas ideias e ideais, mas não são livres para desrespeitar quem escolhe outra forma de viver. Escolher entre a Idade Média e a Idade Moderna, é claro que a diferença é abismal. É dessa forma que vejo todas essas pessoas, que são capazes de expulsar os filhos de casa por serem "maricas", sim essa é a palavra chave na cabeça deles. É difícil aceitar isso, e apesar de os tempos estarem diferentes, já se mostra no horizonte novo retrocesso nos direitos e liberdades do ser humano.Infelizmente!