25/10/22

Livro: Nadar no Escuro






Se soubesse que terminaria de forma tão triste, nem me tinha dado ao trabalho de ler Nadar no Escuro de Tomasz Jedrowski. É que de dramas está a sociedade cheia, e já pouco existe à nossa volta de algo que cheire a otimismo. Também não precisaríamos de escritores a escreverem sobre a homossexualidade nos nossos tempos. Também isso não deveria ser problema em lado nenhum. Mas infelizmente ainda é um problema grave que milhões de seres humanos sofrem na pele do que é ser discriminado por outros tantos milhões de heterossexuais que se acham donos da sociedade e que ditam as regras dos bons costumes agindo com a capa de partidos políticos extremistas ou de religiões hipócritas sem o mínimo respeito pela condição humana, tudo em nome de um Deus que ninguém vê e poucos o compreendem. 
Ler este livro é um misto de fascínio e de revolta. Fascínio porque a prosa sabe a poesia, e de revolta porque a liberdade é simplesmente vivida no armário. As palavras sabem a mel, mas rapidamente se transformam em sal quando no embate com a realidade. É um conflito constante entre o sonho e a realidade. Não existe nada pior na vida do que viver às escondidas, de conviver com pessoas que nos podem denunciar e assim proibir os sonhos de alguém, hipotecar uma vida ou vidas por completo por conta da ignorância. Tantos sentimentos reprimidos, tantas vidas clandestinas, tantas vidas fingidas, tantos choros constantes, tantos suicídios pensados. Tantos de tantos sem fim.  Ler este livro é sincronizar com silêncios, gerir solidão e sobretudo tomar de assalto as palavras e transforma-las em redutos de otimismo fingido. É  um dos melhores romances do género que li até hoje, daria com certeza um filme e tem todos os ingredientes para uma segunda parte, não me estivesse eu a lembrar de outra obra prima, “Chama-me pelo teu nome”. 


Reparos:
Quanto ao texto não entendi o abuso da palavra bicha, tão usado no Brasil, quando a palavra portuguesa é fila. E era de fila que se tratava para esta edição em Portugal. Quanto à capa não gostei, deveria ter sido algo mais de impacto do que a foto que foi escolhida e que a meu ver é pobre para a grandiosidade do romance. 


Tomasz Jedrowski

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