28/11/22

Exposição: Partes de Mim


Ser filho único, sempre me levou a criar “castelos nas nuvens”. Desde a infância que tudo servia para idealizar um mundo diferente do meu. Não conseguia parar de brincar com a imaginação.  Cada dia decorria assim, entre realidade e ficção, e tudo acontecia ao meu sabor e à minha maneira. A música, a minha bússola, sempre presente em todos os momentos.

Moldava as minhas narrativas a partir das pessoas que observava, nas situações, nos animais, nas histórias que a minha mãe me contava, naquilo que vivia, nos passeios com o meu avô…

Observava continuamente, de maneira a tudo se misturar na cabeça e a criar enredos à minha maneira, sem me preocupar se seria possível ou não, real ou irreal. Ali, naquele mundo do fantástico, tudo estava ao meu alcance. Acontecesse o que acontecesse, não me sentia sozinho. Ficava absorvido por aquelas brincadeiras.

Uma das minhas melhores memórias de infância foi ter metido as mãos na lama e senti-la deslizar docemente pelos dedos, inalando o forte cheiro a terra molhada, depois das primeiras chuvadas de outono, no terreno do meu avô.

A minha vida foi-se desenrolando, mas sempre conservei aquela sensação forte e húmida a moldar a minha imaginação e a preencher a minha solidão, transpondo o mundo real para o imaginário.

Atualmente, a grande diferença é que me expresso através da arte. Modelando o barro, materializo a minha imaginação em cada uma das minhas criações. Elas são como filhos, pedaços de mim que transportam o meu legado emocional e social.

Um desabafo constante. Uma permanente recriação do que me vai na alma. Reflito e tenho consciência daquilo que sou, do que faço e do que sinto. Percebo a minha evolução, reparo no preciso momento em que as transformações acontecem, naquilo que permanece ou desaparece, em tudo o que faz parte deste processo.

Busco criar uma forma livre, à procura do equilíbrio entre o desafio de chegar a um sítio diferente e marcar a vida. Desfruto da viagem que o barro me proporciona.

O barro é a esfera onde tudo é possível!

Filipe Faleiro


 

Biografia

Nascido a 1 de fevereiro de 1992, em Lisboa, cedo despertei para as artes, fruto da curiosidade e criatividade estimuladas pela família. Porém, o meu primeiro contacto com a cerâmica só ocorreu em 2016, no CENCAL (Centro de Formação Profissional), através do curso de Técnico de Cerâmica Criativa, nas Caldas da Rainha.

Desde então, tenho desenvolvido um intenso e estimulante percurso autodidata, baseado na experimentação de barros e de técnicas de conformação. Tenho construído o meu saber a partir das constantes pesquisas que faço, bem como do que observo e experimento.

A paixão pelo barro, nascida de numa brincadeira com a criação livre a partir da figura humana, foi-se consubstanciando e em 2018 montei o ateliê, nas Caldas da Rainha, onde comecei a desenvolver, de forma sistemática, as minhas peças, em cerâmica.

A recriação do meu imaginário tem por elementos base, a figura humana, animal e a esfera. O Barro não é apenas uma matéria-prima, é a linguagem através da qual extravasa o meu interior.  É o diário das minhas memórias, reflexões e sensações. Crio a partir de um tema e aprofundo-o em várias peças, cruzando linguagens, numa continuidade que não compromete o todo. As formas exageradas, redondas e assimétricas suscitam-me um especial interesse. A falta de simetria permite-me criar ritmos, movimentos e sensações chocantes.

As minhas coleções contam assim, a história dos meus olhares do mundo.

Fonte do texto: Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha.











De 26 Novembro a 29 de Janeiro de 2023, no  Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha.

Fotos: João Eduardo

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