14/01/23

Natal / Ano Novo (2022/2023)

 


Natal / Ano Novo


Mal caíram os festejos do Dia de Todos os Santos, o comércio em geral lembrou-nos que o próximo evento era o Natal e a passagem de ano. Como vivemos permanentemente no consumismo, era necessário recuperar os lucros travados pela imposição de regras por causa da COVID-19. Dois meses a levar com a publicidade na comunicação social, a música nas ruas e nas lojas, numa agressão que todos os anos empesta as nossas vidas com laivos de agressividade por conta de manipulação de preços do mais barato que ao final sai mais caro. O verdadeiro espírito de Natal vive nesta época em completa asfixia. É difícil de transmutar e de interiorizar a verdadeira essência humana que o Natal nos ensina. A sede e a febre das listas de compras perturbam os sentidos, mas o mundo continua a girar como sempre, em torno dos seus graves problemas que urge  ao Homem civilizado resolver. As guerras em várias regiões da Terra, os direitos humanos violados sobre todos os pretextos, a arrogância dos governantes que se dão ao direito de não repartir as riquezas essenciais, impondo as suas ideias ditatoriais aos países que se dizem defensores da Democracia, provocando o caos, a degradação e a qualidade de vida de países em dificuldades económicas, decadência moral na maioria das nações, assim como total desrespeito pela Natureza, e esta revolta-se procurando o equilíbrio, coisa que o homem não tem conseguido realizar. Comemorar o Natal em Família ao som das bombas no quarteirão ao lado, ou da miséria e fome que graça na maioria das grandes cidades, demonstram-nos que estamos cada vez mais longe de uma sociedade harmoniosa e equilibrada. Tudo isto só trás desassossego e incapacidade de resolução. Em pleno Sec. XXI, a grande maioria da humanidade diz-se Cristã, mas infelizmente vive sem o Cristo. Não compreendeu integralmente a sua mensagem de moralidade e de equilíbrio, como solução permanente para todos os que aqui habitam.  Continuamos com o velho homem que se diz cristão, mas a viver uma realidade materializada que despreza quase por completo os valores espirituais, que em tempos passados eram muito apreciados. Este velho homem esqueceu as multidões que acorreram no tempo de Jesus para o escutar, eram sobretudo compostos por doentes e sofredores. E nós o que procuramos? O que estamos aqui a fazer? Qual o nosso propósito de vida? Hoje somos reis sem monarquia.  

Mais uma vez o Natal/Ano Novo foi a tradicional reunião familiar cada vez mais restrita, com menos elementos. Dou-me a pensar e a rememorar outros tempos, a dos meus avós, onde eramos muitos, novos e velhos. Os mais velhos já partiram há muito, e os novos desse tempo, estamos agora no papel dito de idosos, onde a maioria da família se espalhou por outros núcleos familiares. Hoje os novos são cada vez menos, residuais, para os quais o Natal é apenas um período de sabor a férias que pela vontade deles demoraria a eternidade. A tecnologia dos telemóveis substituiu a arvore de Natal e os presentes vem sobre a forma de jogos e inúmeras plataformas digitais. Apenas os mais novos olham para o Natal e vivem a magia que as prendas ainda transmitem. Mas durará pouco tempo. Hoje já não se acredita nesse anedotário que o Pai Natal e o seu trenó atiraria as prendas pela chaminé. Crendices que serviam o seu propósito noutros tempos, ofuscados pela atual tecnologia das massas. Nem os programas televisivos, o satírico “sozinho em casa” preenche o serão televisivo inundado de programas cada vez menos interessantes, pelo menos para uma certa geração que ainda vê a TV e a tem como companhia. Pelo menos já sabemos que no próximo Natal vamos ter a “Musica do Coração”, que toda a gente se lembra com ternura. A magia dos presentes deixou de ter o seu significado, como era no tempo em que era criança. Agora todas as crianças têm quase tudo, tem os quartos e a garagens atolados de bonecos e de jogos que tiveram a sua vida curta, porque as empresas estão sempre atentas em apresentarem mil e uma novidades aos pais para desembolsar dinheiro que teria mais razão ser investido em outras áreas. Mas é assim, vivemos sobre a sombra do modismo, da última novidade que os miúdos trazem da escola no convívio, onde impera apenas a competição e cada vez menos formação, para não falar na educação que vem não sei de onde… Nesta época somos anafados por comidas e pelos excessos que o dinheiro pouco abundante, compra. Não podemos ficar atras de nada, porque sempre vem aquela pessoa que não gosta de bacalhau, então tem que ser o peru, ou o polvo. Há, ainda tem os veganos! Difícil estes tempos! Para não falar de outras coisas que os mais velhos chamariam de modernices. O tempo meteorológico deste ano não ajudou na maioria das festividades, o que mudou radicalmente os planos de quem queria levar a sua melhor roupa, exibindo os seus excessos ao ribombar do fogo de artificio e ao estalido das garrafas de champanhe, para além de comerem as 12 passas como manda a tradição. No dia a seguir à noite de Natal e ao de Ano Novo, os contentores de lixo de algumas ruas e avenidas foram testemunhas dos excessos do animal chamado homem, denotando falta de civismo e respeito por quem faz a recolha do lixo. Para mim esta época natalícia foi igual aos anos anteriores, em família, mas não deixou de existir na cabeça de todos nós o desconforto da existência de uma sombra que paira sobre todos que algo vai mal em nosso redor. Nunca sabemos se saímos vivos deste tempestade que nos evadiu nos últimos meses, semeando medos e incertezas, e se somos capazes de ver os nossos a prosseguir os sonhos herdados dos nossos avós. Lutar por aquilo que nos faz feliz é ainda um lema que vale a pena introduzir nos nossos planos de vida.

Bom Ano Novo 2023.

© João Eduardo

foto:Internet


Sem comentários: