09/03/23

As Memórias de um Espírito (Livro)

 


-As Memórias de um Espírito -

Morri precisamente às cinco da tarde de um dia 30 de setembro. Calhou que justamente nessa manhã eu tinha completado mais um ano de vida e a Alda estava numa grande azáfama nos retoques finais de um jantar que queríamos oferecer aos amigos próximos e também a mais uns quantos esfomeados da cidade do Mindelo. Mas de repente caí no chão. Redondo, sem um ai, como desamparado saco de batatas mal cheio.(Pag11)


- A vida depois da quase morte -

O que é uma experiência de quase-morte? Um delírio? Um desequilíbrio neuroquímico? O resultado de um cérebro moribundo? Ou outra coisa – algo inefável, uma viagem a um reino indescritível que pode transformar para sempre quem a vive?
Em 1975, Raymond Moody criou o termo experiência de quase-morte no seu revolucionário livro Vida depois da vida, no qual delineou nove elementos da EQM, incluindo uma recapitulação da vida, uma experiência fora-do-corpo, encontros com entes queridos falecidos e uma decisão de regressar ao corpo. Oito anos depois, Bruce Greyson, professor na Universidade da Virgínia, expandiu a lista para abranger dezasseis elementos, englobando uma perceção súbita, a vivência de cenas do futuro e a chegada ao ponto de não retorno.
Página 13.


Revista Ler
edição Inverno 2020-2021


Alastra-se a peste, recordando-se a denominada negra do período medieval, em que a Igreja, intolerante e irresponsável através do seu representante máximo, propôs a Inquisição, e mais de um milhão de vidas foram ceifadas cruelmente por serem acusadas de hereges… Logo depois, outro Papa anunciou que os gatos eram portadores da figura satânica, e os felinos foram perseguidos de maneira inclemente e mortos com impiedade… Como efeito natural, os ratos multiplicaram-se terrivelmente e, portadores de pulgas infectadas, contaminaram a Terra, especialmente a Europa, destruindo milhões de existências…
De alguma forma, ocorre hoje o mesmo fenómeno; ao combater-se, ou parecer fazê-lo, as paixões políticas arruínam os países, e os sobreviventes do vírus da COVID-19 serão dizimados pela miséria e pelo abandono.
Pag.22


Revista Gerador nº33
A Revista Gerador 33 dedica a sua atenção à relação entre sustentabilidade e cultura. Sabendo que 2030 é o ano de não retorno no que diz respeito às alterações climáticas, é urgente refletir sobre como podemos contribuir para um mundo mais sustentável. Neste campo, o setor da cultura desempenha um papel fulcral, quer como exemplo, quer no tratamento dos temas e promoção do conhecimento junto das comunidades.
A capa é da autoria de AkaCorleone e o interior tem ainda obra literária de Afonso Reis Cabral, fotográfica de João Monteiro e gráfica de Marta Pedroso. 


Os Armários da Noite
Poesia


(39) Que fanatizados de seitas várias predigam apocalipses não espanta, faz parte, porque, de ordinário, nas seitas não são cultivadas a razão, o bom senso, a inteligência, coisas que já são apanágio, fazem parte da doutrina espírita. Ora surpreende que pessoas academicamente bem formadas e com responsabilidades no espiritismo alinhem também elas em apocalipses datados e predigam catástrofes de toda a espécie. Em primeiro lugar o espiritismo não está cá para andar a meter medo às pessoas mas sim para as libertar do medo; em segundo lugar, se lemos A Génese sabemos que as grande transformações em curso são sobretudo morais. Terramotos sempre os houve. Não sei se os espíritas catastrofistas pretendem provar alguma coisa; certo é que se expõem ao ridículo, com o prejuízo acrescido de fazerem passar a ideia de que o espiritismo é apenas mais uma seita. Acresce que “Reconhecendo-se ainda que os Espíritos levianos, pela facilidade com que predizem o futuro e precisam factos materiais de que não nos é dado ter conhecimento. Os bons Espíritos fazem que as coisas futuras sejam pressentidas, quando esse pressentimento convenha; nunca, porém, determinam datas. A previsão de qualquer acontecimento para uma época determinada é indício de mistificação”(LM 267.8º).


No dia seguinte, em casa, Bene sentou-se à mesa para o almoço. A travessa com o assado andou de mão em mão mas Bene não pôde mais. Levantou-se; seus olhos noutros olhos, grandes, húmidos, magoados! Uma novidade para Bene. (Aquela carne… ele… não!) Uns olhos de expressão humana, na sua mensagem de dor sem culpa, perseguindo-o. Bene saiu; os olhos noutros olhos meigos e selvagens e nos ouvidos o balir da cria como um sino dentro dele.
De longe, da Catedral, badaladas lentas e graves deram a hora. Uma hora certa para Bene o caçador.
Pag.121


Gisberta
Ela sonhava com pistas de dança em discotecas apinhadas, sonhava ser uma rainha ao som dos ABBA, o seu Travolta abraçando-a por trás, beijando-lhe o pescoço, pedindo-lhe amor sem travessas nem becos escuros. Ela trouxe o sonho ancorado ao peito como um parto nunca nascido, meteu nas veias o cimento das cidades inóspitas, trocou o corpo pela fome e adormeceu à beira de uma fogueira onde cozinhou velhos ódios e novos inimigos. Porque lhe cortaram as asas como a Pipi cortam as tranças, ela deixou pelo caminho as nódoas das pedras atiradas contra a carne, as feridas dos cacetes que a torturaram, um sonho em agonia. Ela tinha dentro de si um dia para esquecer, um dia de mortos homenageados, um dia sem data, ela tinha dentro de si uma lembrança. Agora que dorme e descansa, poderá seu Travolta beijar-lhe os saltos altos em que desceu aos infernos?
Pg. 34

Livro: Call Center
Autor: Henrique Manuel Bento Fialho
Editora: Companhia das Ilhas
2ª Edição: Julho 2019 




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