24/06/23

As Memórias de um Espírito



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Opinião:
Hilariante quanto baste, "As Memórias de um Espírito", remete para um universo masculino recheado de ironias e de uma carga erótica que faz saltar as pedras da calçada. Nada do que é descrito de forma romanceada pertence ao universo da fantasia, mas sim de uma realidade que estrutura a rede social de relações e amizades. Os interesses mais íntimos são uma janela aberta para demasiadas fantasias que não possam ser postas em evidencia ou quanto muito realizadas pelas diversas personagens descritas por um espírito amortalhado. De um humor contundente e hilariante, mostra-nos que o universo sexual do ser humano ultrapassa em muito aquilo que ele pensa, o que ele imagina, e o que é capaz de concretizar. A leitura deste livro leva-nos para imaginação de estar na mesma condição e ficar à espera do que familiares e amigos dizem e pensam aquilo que nunca nos disseram em vida cara a cara. Os abutres vem ao nosso funeral para terem a certeza que estamos mortos. Esquecem-se que pode ser o primeiro passo para os "prosseguir" até ao fim das suas vidas. Cá estou para observar.
João Eduardo 
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Morri precisamente às cinco da tarde de um dia 30 de setembro. Calhou que justamente nessa manhã eu tinha completado mais um ano de vida e a Alda estava numa grande azáfama nos retoques finais de um jantar que queríamos oferecer aos amigos próximos e também a mais uns quantos esfomeados da cidade do Mindelo. Mas de repente caí no chão. Redondo, sem um ai, como desamparado saco de batatas mal cheio.
(Pag11)

Livro: As Memórias de um Espírito
Autor: Germano Almeida
Género: Romance
Editora: Caminho
2ªEdição: Julho 2018
(1ªedição:2001)
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RESUMO:
O advogado José Alírio de Sousa, figura bem conhecida no Mindelo, morre subitamente no dia do seu aniversário. Decorriam os preparativos para a festa quando todos foram surpreendidos por este funesto evento. Tão inesperada foi a sua morte, que é o próprio Alírio a relatar-nos os acontecimentos do atribulado velório. O seu espírito, demasiado preso ainda às coisas terrenas, vagueia pelas divisões da casa onde viveu ouvindo e observando aqueles que acorreram a acompanhá-lo naquela longa noite. Cada familiar, cada amigo, cada conhecido, representa uma estória na estória do que foi a sua, apesar de tudo não muito longa vida.
E é de recordação em recordação que José Alírio nos vai revelando a sua agitada e aventurosa passagem por este mundo. A narração decorre num tom bem-humorado, às vezes irónico às vezes corrosivamente satírico, mas quase sempre alucinante pelo entrecruzar de personagens, de situações tão picarescas quanto hilariantes, caracterizadas por uma forte e constante carga erótica. Mas chega o momento de o nosso espírito-narrador nos abandonar definitivamente.

(fonte do resumo:Fnac Portugal) 

 

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