Ele ficou esperando durante 11 dias. Era uma segunda-feira comum de agosto quando passou pela primeira vez pela rodovia. Eu estava voltando do trabalho, cansado, com a cabeça cheia de problemas. Mas algo me fez olhar para o acostamento. Um cachorro vira-lata, magro, sentado no meio do mato, olhando fixamente para os carros que passavam. Como se estivesse procurando alguém. Pensei: "Deve estar esperando o dono voltar." E segui meu caminho. Na terça-feira, ele ainda estava lá. Mesma posição. Mesma expressão. Olhando cada carro que passava com aqueles olhos cheios de esperança que ia morrendo a cada veículo que não parava. Quarta-feira. Lá estava ele. Só que agora mais magro. A pelagem suja de terra e chuva. Eu parava às vezes, mas ele não se aproximava. Apenas olhava para mim, depois voltava a olhar para a estrada. Como se dissesse: "Não é você que eu estou esperando." Passei a deixar comida e água. Ele comia, mas nunca saía daquele lugar. Nunca deixava de vigiar a pista. Quinta. Sexta. Fim de semana inteiro. Ele ali. Chovesse ou fizesse sol. Carros passando a 100 por hora, buzinando, quase atropelando. Mas ele não se movia. Apenas esperava. Na segunda semana, conversei com moradores da região. Foi quando descobri: o dono dele tinha morrido em um acidente de moto naquela mesma rodovia, há 11 dias. Exatamente onde o cachorro estava. Ele não estava perdido. Ele estava lá de propósito. Esperando por alguém que nunca mais voltaria. Meu coração se partiu. Tentei pegá-lo, levá-lo para casa, tirá-lo daquela espera dolorosa. Mas ele resistia. Chorava. Uivava. Como se ir embora fosse trair a memória de quem ele amava. Foi preciso a ajuda de uma ONG de proteção animal. Eles vieram com equipamento, experiência, paciência. E mesmo assim, levou horas. Ele lutou até o último segundo para ficar. Porque para ele, aquele não era apenas um pedaço de estrada. Era o último lugar onde seu humano esteve vivo. Era o único lugar onde eles ainda estavam juntos, de alguma forma. Hoje, dois meses depois, ele está aqui em casa. Eu o batizei de Fiel. Porque não consegui pensar em nome melhor. Ele se adaptou bem. Come, brinca, dorme na minha cama. Mas toda vez que saímos de carro e passamos por aquela rodovia, ele fica inquieto. Olha pela janela com aquela mesma expressão. Procurando. Sempre procurando. As pessoas me dizem: "Que sorte você deu a ele." Mas a verdade é outra. A sorte foi minha. Porque Fiel me ensinou algo que eu tinha esquecido: o que significa amar alguém de verdade. Sem condições. Sem desistir. Mesmo quando todo mundo já foi embora. Mesmo quando a única coisa que resta é esperar. E se você acha que isso é "só um cachorro de rua", então você nunca viu amor de verdade. Porque amor de verdade não escolhe raça, pedigree ou valor de mercado. Amor de verdade fica. Mesmo depois que tudo acabou. Mesmo quando não há mais esperança. Amor de verdade espera 11 dias debaixo de sol e chuva por alguém que nunca mais vai voltar.

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