30/11/22

Teatro: Terra Natal

 


«Ninguém sabe do que se vai lembrar.»

"Terra Natal" é o título de uma de duas peças curtas, do escritor australiano Daniel Keene, que o encenador Luís Varela decidiu juntar num mesmo espectáculo. A outra é “A Chuva”. Estreiam dia 6 de Maio no Teatro da Rainha, formando uma espécie de díptico em que a memória histórica e íntima, o passado e o presente, a ausência e a presença se cruzam no corpo de personagens dolorosamente reais.

Keene nasceu num subúrbio de Melbourne em 1955. Filho de um operário e de uma mulher-a-dias, chegou a frequentar Direito antes de emigrar para a Europa com a escrita no horizonte. Trabalhou como servente de pedreiro na Grã-Bretanha e chegou a roçar a mendicidade na Nova Iorque dos anos de 1980. Começou a escrever para teatro em 1979, já depois de ter concebido a companhia Keene/Taylor Theatre Project (KTTP) em parceria com a encenadora Arlette Taylor. Foi no KTTP que “A Chuva” e “Terra Natal” estrearam, respectivamente em 1998 e 1997.

Considerada uma das suas peças curtas mais belas, “A Chuva” evoca o holocausto nazi colocando em cena uma mulher idosa que conta como, quando era jovem, as pessoas que embarcavam nos comboios lhe confiavam os objectos que amavam. Trata-se de um monólogo intenso atravessado por velhos fantasmas e marcado pelas feridas da História. Keene refere-se às suas peças curtas como um «diálogo com a realidade do teatro e com o teatro da realidade», porventura «poemas recalcitrantes, incertos do seu nascimento e todavia confiantes no seu ser».

Em “Terra Natal” assistimos a um conflito entre as diferentes gerações de uma mesma família. Sobressai a tensão entre o pai em vias de ficar desempregado e o filho adolescente prestes a entrar na vida adulta, mas também, mais uma vez, as memórias de um certo desenraizamento plasmado na figura da avó. Prestando especial atenção a personagens excluídas dos circuitos do poder, o teatro de Daniel Keene facilmente nos cativa por nele se misturarem os grandes temas da humanidade com uma poesia do quotidiano acessível e apaixonante.

Ficha Artística:

Tradução e encenação | Luís Varela

Assistente de encenação | Marta Taveira

Interpretação | Isabel Lopes, Lavínia Moreira, Nuno Machado, Carlos Batista e Sara Delgado

Cenografia | José Serrão

Figurinos | José Carlos Faria

Música e espaço sonoro | Rui Rebelo

Desenho de Luz | António Anunciação

Fonte: ARRE - Teatro da Rainha


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 Teatro realizado de 6 a 29 Maio de 2021
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