Depois de ver o filme com o mesmo nome, eis agora o livro que acabei de ler. O livro, esse está na minha posse desde 1993 (1ªedição-Setembro). Só agora reuni coragem de o ler, motivado pela visualização do filme. São 301 páginas difíceis de ler. Li de uma só vez 100 páginas. Depois em vários dias lia duas ou três páginas. Não conseguia ler tanta violência psicológica que um ser humano pode sofrer. Confesso que fiquei para lá de surpreendido, indignado, revoltado contra a máfia dos partidos políticos, quer sejam de direita ou de esquerda. Antes Que Anoiteça, é um documento histórico que deveria envergonhar o ser humano. Escrito com todas as palavras possíveis do vocabulário, Reinaldo Arenas não desviou uma síbala, nem contornou determinados comportamentos para exprimir o que fez na vida e o que passou durante um regime político muito apreciado pelo mundo inteiro. Este livro é uma autobiografia pura e dura, sobre o efeito do regime político de Fidel Castro. Foi perseguido pelo regime por toda a espécie de pessoas que viviam perseguidas e que perseguiam em troca de um pedaço de pão. Pessoas que inventavam e difamavam, o vizinho, o familiar para obter com isso determinados privilégios. Os episódios são tão duros de escrever, que a maioria das folhas que ia lendo eram debaixo de uma torrente de lágrimas. Um dia Reinaldo, conseguiu fugir numa balsa para os Estados Unidos onde ficou exilado. Encontrou uma América completamente diferente daquela que sonhara. Os americanos senhores do seu nariz ignoraram a sua escrita, vindo a morrer em 1990.Desde a infância, quando vivia num quarto destinado aos criados de uma tia, que se tornou informadora da polícia, passando pela homossexualidade, repressão do mesmos, os encontros de escritores na clandestinidade, são ingredientes violêntos para quem vive num país dito democrático e que não estando inteirado desta realidade obscura, assobia para o ar e tem comentários xenófobos e homofóbicos.
António Mega Ferreira escreve num brilhante prefácio, diz tratar-se de um livro extraordinário, cuja "extra-ordinariedade" começa na ausência do literário. Acontece que a literatura vai por vezes mudando de lugar, e o que "Antes que Anoiteça" faz, antes de mais, é recuperar por processos arqueológicos, como literatura, estilhaços de um percurso pessoal com um potencial ficcional transbordante, mas que pela sua condição biográfica e autêntica, se fazem transportar na narrativa ainda agarrados a essa terra viva de onde foram arrancados."
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Reinaldo Arenas nasceu em Holguín, Cuba, em 1943, numa família de camponeses. Desiludido com a revolução, à qual havia aderido de imediato e com a qual colaborou, acabou por se tornar sua vítima, passando dois anos preso. Quando, em 1980, pôde finalmente sair de Cuba, acabou por se instalar em Nova Iorque onde, padecendo de sida, se suicidou em 1990. É autor de uma vasta obra que inclui poesia, romance e teatro, e da qual se destaca este O Mundo Alucinante (1969), bem como Celestino antes del alba (1967), El palacio de las blanquísimas mofetas (1980), El Central (1981), Termina el desfile (1981), Otra vez el mar (1982),El portero (1989),El asalto (1991), Viaje a La Habana (1990), El color del verano o nuevo ''jardín de las delicias'(1991) e a sua autobiografia, publicada postumamente,Antes Que Anoiteça (1992), adaptada ao cinema em 2000, num filme realizado por Julian Schnabel com Javier Bardem como protagonista.
1943 - 1990
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