06/08/24

Chama-me Pelo Teu Nome



Recentemente recebi o DVD “Chama-me Pelo Teu Nome”, um filme de Luca Guadagnino, e nos principais papéis os atores Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel. As emoções são tantas, que me é difícil saber por onde começar. 
Não é fácil falar deste filme, tendo em conta a minha opinião, e que só a mim me diz respeito, e que de alguma forma queira contribuir para que outros veem. Não é um filme para “paneleiros", como vi escrito nas redes socias, demonstrando uma mesquinhez e ignorância absoluta. As pessoas são livres de dar a sua opinião, agora serem mal-educadas, isso não. Aliás esse é um dos problemas graves das gerações atuais, que pretendem manipular e fazer crer que o que é bom ou não para a sociedade. 
Este é um filme de sentimentos, de relações humanas. É um filme simples, com espaços para refletir, saborear os diálogos, deixar-se ir pelas escolhas musicais da excelente banda sonora. Reportando a uma época, ano de 1983, em pleno início dos anos 80, com tudo o que trouxe num salto qualitativo e quantitativo na melhoria social e cultural da sociedade. 
Élio com 17 anos é a personagem central do filme, vive com a família num território quase improvável para o desenvolvimento do filme, numa casa antiga do século XVII, numa região rural.  Todos os anos no verão o pai de Élio, professor de arqueologia, convida alguém para trabalhar com ele em determinados projetos que desenvolve. Nesse ano foi escolhido um americano de 24 anos, Olivier,  muito bem prestativo, educado e sobretudo inteligente. Aliás todo o filme é um encontro de excelentes ideias, começando até pelo próprio nome do filme. 
Pelo contrário Élio, apesar de jovem, está pouco preparado para aquilo que a vida vai oferecendo. Vai desenvolvendo nele uma crescente obsessão saudável em relação ao Oliver. Para ele tudo parece ser fácil, mas não é, a sua timidez de palavras, leva a que o tempo passe e tardiamente percebe os sinais que vão aparecendo dando caminho aberto para que ambos possam efetivamente revelar-se intimamente. 
Élio, é um exímio tocador de piano, e demonstra mestria em alterar as pautas dos compositores. Quando se é adolescente o mundo gira à nossa volta, vive-se até onde é possível, até onde existe a linha, a tal barreira imposta por uma sociedade intolerante. Às vezes fico a olhar para os adolescentes de hoje, e tenho pena de não ter sido mais livre no meu tempo. 
Uma das cenas que me tocou, foi quando o Élio, pega nos calções de Olivier e enfia-os na cabeça e começa a cheirar a zona do genitais e simula com os quadris atividade sexual na cama. É verão, são os corpos nus da cintura para cima, calções leves e pernas sedutoras, são ingredientes que elevam a fantasia de quem observa, e fica ali por momentos a sonhar com o que faria com aquilo. 
São as idas ao rio, o tomar banho, nu ou não, onde impera a liberdade dos sentidos, e vais até onde o teu livre arbítrio deixar. Como a maioria de nós, e eu tinha-o, um canto só para nós exorcizarmos os nossos fantasmas. 
Ficavam as ideias impregnadas nas paredes das rochas, nas árvores. Esse era o nosso canto, um pouco á semelhança do filme do “Clube dos Poetas Mortos”, que é também um dos grandes filmes da minha vida. Até o aparecimento de sangue no nariz de Élio, me fez lembrar os meus tempos de jovem. Só nessa altura eu passei por isso. Não se pode ficar indiferente a esta referência por parte do escritor e do realizador que o passou para o filme. 
Este filme é também uma obra de culto onde o livro tem um destaque sagrado em todas as cenas onde se desenvolve a ação. O livro é de facto o melhor caminho para abrir horizontes para o mundo dos sentidos. Ajuda-nos a conhecer mais e mais e tornar-nos mais cultos. Os silêncios milimetricamente colocados neste filme, surgem como que antípodas de reflexão e param o que está a acontecer e o que porventura se possa seguir. De facto, eu gosto destes silêncios, sobretudo quando caem as lágrimas desordenadas, elas não provocam ruído se não recorrermos de imediato ao lenço.  
Estes silêncios para mim foram a ponte ao passado, a acontecimentos que eu julgava esquecidos ou perdidos. Faz-se um esforço para pensar ainda no presente o que resta do futuro da vida, sobretudo quando se vive num local geográfico entre dois cemitérios. Estou a falar da minha pessoa, claro. 
Outra cena sublime que me deixou em êxtase, nem imaginava que assim fosse, é quando Élio, num dos períodos de amargura, busca num pêssego o aconchego daquilo que ele queria de Olivier. Retirou o caroço, e enfiou o pénis no respetivo buraco masturbando-se debaixo dos calções. A cena é tão pura e tão bem feita e realista que se fica de boca aberta para tal concretização. 
O sémen fica no interior do pêssego que é colocado na mesinha de cabeceira, onde mais tarde Olivier quando chega ao quarto, descobre o que Élio fez com o pêssego. Delirante, não encontro palavras fáceis para emitir o misto que senti ao observar aquele pedaço de pedagogia erótica. 
Antes da partida de Olivier para os Estados Unidos, durante alguns dias foram dar um passeio sozinhos pelas montanhas verdejantes. Como eu os invejei, mas na realidade o fim do filme é um mestrado em nostalgia. Não se está preparado, mas já se presume o que vai acontecer no final. O final é mesmo péssimo para os sentidos. Olhar para a lareira e ver ali queimados os sonhos do seu amado que lhe telefonara antes a dizer que ia casar com uma namorada de relação de dois anos. 
Não se está preparado para estas coisas, mesmo com uma família tão permissiva e liberal nas questões da homossexualidade. Antes deste final ainda, tem a conversa entre pai e filho sobre sentimentos tão inteligentemente dirigidos que dispenso fazer comentários. Ver o filme é revelador de tudo aquilo que não fui capaz de dizer por palavras. Quando acabei de ver o filme, fui de imediato comprar o livro. E digo-vos uma coisa, é o complemento do filme. É fantástico. Os dois vão ficar lado a lado na estante de livros. Nota 10 de 1/10.

João Eduardo     


Timothée Chalamet (Élio)

Armie Hammer (Olivier)

Michael Stuhlbarg (Pai de Élio)

Amira Casar (Mãe de Elio)

Esther Garrel (Amiga de Élio e da família)

Victoire Du Bois (Amiga de Olivier) 

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Livro...






«« II »»
os 4 minutos mais longos do filme...



21 Outubro 2018



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