31/10/22

John & George



Esta é a incrível história de vida de John Dolan, um famoso artista de rua londrino que deve a sua felicidade à profunda amizade que o une a George, um bull terrier muito especial que o salvou de uma existência sem sentido e profundamente autodestrutiva.
Durante muitos anos, John conheceu um quotidiano duro e completamente desprovido de esperança, chegando mesmo a viver nas ruas como sem-abrigo, até ao dia em que lhe pediram para ficar com George. Este seria o ponto de viragem na sua vida.
John recuperou um talento há muito esquecido, o desenho, e é hoje um dos artistas de rua mais conceituados de Londres.
Fonte: WOOK

Citações:
(...)
…acabei por apender que, mais azar que se tenha, somos nós os últimos responsáveis pela nossa vida. Temos de encontrar os nossos talentos – pois todos os temos – e usar as nossas capacidades para nos ajudar a sair do fundo do poço, as vezes que forem necessárias.

(...)
Não nasci mau. Não tinha genes que automaticamente fizeram de mim um ladrão, um toxicodependente ou um sem-abrigo. Apenas tive azar na vida, tal como tantas outras pessoas no mundo, tendo levado muito tempo a mudar isso e a pôr a casa em ordem.

(...)
«Esteja à vontade para tirar uma fotografia, mas, por favor, deixe uma moeda no copo; se não, posso morder! Tenha um bom dia, George»



Entrevista a John Dolan: Aqui

.
John & George escrito na primeira pessoa por John Dolan, relata a sua vida pessoal. É um livro que fica bem na biblioteca de casa, e de quando em vez reler, porque nos faz meditar que a vida para alguns é problemática, para outros é tudo facilidades. É claro que tudo tem explicação, mas cabe a cada um de acordo com os seus conhecimentos avaliar o seu sentido de vida. Também é uma reflexão de que a nossa relação com os animais é muito mais do que imaginamos, o que nos obriga a ter outro tipo de relacionamento. Tanta coisa para mudar!
  
 

É isto!


 🌳🌍🌳

É isto... nunca mais aprendemos!

Algures em Alcobaça (29 Outubro 2022)

28/10/22

Filme: Verão de 85


Filme: Verão de 85 / Realizado por François Ozon / Género: Drama / Actores principais: Félix Lefebvre, Benjamin Voisin, Philippine Velge. / adaptação da obra "Dance on My Grave" do escritor britânico Aidan Chambers.

Sinopse: Quando o barco de Alexis, de 16 anos de idade, se afunda na costa da Normandia, David, de 18 anos, salva-o heroicamente. Alexis acaba de encontrar o amigo dos seus sonhos e entre ambos surge uma relação de grande cumplicidade. Mas será que o sonho irá durar mais do que o verão de 1985?

Critica (  https://www.adorocinema.com/ ) (Barbara Demerov ):  Após adentrar em um drama sobre abuso e religião em seu filme anterior, Graças a Deus, o novo projeto do diretor François Ozon envolve o universo adolescente, permeado por paixão, desilusão e expectativas relacionadas ao primeiro amor. O cenário de Summer of 85 é propício para tudo isso ter ainda mais intensidade: a história se passa nas praias da Normandia, com dias repletos de sol e calor e o destaque para um casal que se forma a partir de uma eventualidade.
O verão por si só já permite que a trama seja trabalhada com base num eventual fim -- especialmente com relação ao encontro dos jovens Alexis e David, cuja relação se equilibra entre amizade e romance, no estilo 8 ou 80. Alexis, que é salvo por David quando seu barco vira no mar, é "enfeitiçado" e se vê completamente amarrado a David num piscar de olhos. O roteiro de Ozon não possui delongas ao apresentar a relação, mas antes disso abre seu filme com um prólogo e a sombria narração de Alexis, que indica ao espectador uma trama de suspense.
No entanto, o clima obscuro da cena de abertura se perde ao longo da narrativa, pois o romance e as intrigas que vão aparecendo no caminho do casal ganham boa parte da atenção do roteiro. Inclusive, tal introdução soa até como uma escolha inusitada do diretor, pois nada é o que parece ser num primeiro olhar. Só é por conta da narração de Alexis que o espectador já espera por algo trágico, pois a união dos dois jovens franceses em si não dá indícios de que algo do tipo está por vir. No entanto, apesar de nunca evoluir muito além do romance, a história entrega vários elementos que mantém a atenção sempre presente -- como no modo em que ambos se tratam e as mudanças repentinas que surgem.
As atuações de Félix Lefebvre e Benjamin Voisin são as responsáveis por carregarem a trama de forma espontânea e até mesmo divertida, dando ênfase em cada fase do intenso romance. Se por alguns momentos há leves toques de mistério envolvendo a família de David, tudo se dissipa quando a dupla passeia pela cidade e troca momentos de afeto. A fotografia, que prioriza os tons quentes (que combinam tanto com a estação quanto com a história), também ajuda na imersão e ajuda a complementar os momentos em que palavras não são ditas.
Porém, Summer of 85 perde um pouco de seu brilho por se afastar muito do prólogo no decorrer de seu desenvolvimento. Apesar de as trocas temporais funcionarem para manter o filme dinâmico e instigante, o desfecho dá a entender que o mesmo ciclo poderá se repetir, uma vez que o arco de Alexis parece dar voltas em si mesmo. Ao observar seu comportamento no início e no fim, não há mudanças muito chamativas e, ainda por cima, parece ter absorvido um pouco da personalidade encantadora de David. Diante de uma história que aborda o sentimento de posse, o final torna-se um tanto ambíguo: não dá para identificar se Alexis se libertou ou sucumbiu ao modo de vida que tanto lhe marcou.


 Filme Completo:


Versão Original: RTPplay
.
Mais um filme com idioma em francês, o que me transportou para o passado em que esta mesma língua era de uso corrente nas escolas. Agora com o inglês a dominar, perdeu-se a essência das coisas, das épocas, dos instantes. De repente vi-me a ser transportado para dentro do filme, não só pelas incertezas de quando se é jovem, mas também pelas dúvidas que as relações, mesmo que aventuras de ocasião podem levar a fins dramáticos. Parece que inevitavelmente estamos condenados a esses acontecimentos. A razão e o coração mais uma vez a trair-nos. Tudo não passa de eventualidades, de instantes enquanto a vida continua para os que ficam na Terra, fica as lembranças e os dramas que derretem qualquer certeza. Simplesmente porque ela não existe, por enquanto...

  

25/10/22

Foto do Dia


Livro: Nadar no Escuro






Se soubesse que terminaria de forma tão triste, nem me tinha dado ao trabalho de ler Nadar no Escuro de Tomasz Jedrowski. É que de dramas está a sociedade cheia, e já pouco existe à nossa volta de algo que cheire a otimismo. Também não precisaríamos de escritores a escreverem sobre a homossexualidade nos nossos tempos. Também isso não deveria ser problema em lado nenhum. Mas infelizmente ainda é um problema grave que milhões de seres humanos sofrem na pele do que é ser discriminado por outros tantos milhões de heterossexuais que se acham donos da sociedade e que ditam as regras dos bons costumes agindo com a capa de partidos políticos extremistas ou de religiões hipócritas sem o mínimo respeito pela condição humana, tudo em nome de um Deus que ninguém vê e poucos o compreendem. 
Ler este livro é um misto de fascínio e de revolta. Fascínio porque a prosa sabe a poesia, e de revolta porque a liberdade é simplesmente vivida no armário. As palavras sabem a mel, mas rapidamente se transformam em sal quando no embate com a realidade. É um conflito constante entre o sonho e a realidade. Não existe nada pior na vida do que viver às escondidas, de conviver com pessoas que nos podem denunciar e assim proibir os sonhos de alguém, hipotecar uma vida ou vidas por completo por conta da ignorância. Tantos sentimentos reprimidos, tantas vidas clandestinas, tantas vidas fingidas, tantos choros constantes, tantos suicídios pensados. Tantos de tantos sem fim.  Ler este livro é sincronizar com silêncios, gerir solidão e sobretudo tomar de assalto as palavras e transforma-las em redutos de otimismo fingido. É  um dos melhores romances do género que li até hoje, daria com certeza um filme e tem todos os ingredientes para uma segunda parte, não me estivesse eu a lembrar de outra obra prima, “Chama-me pelo teu nome”. 


Reparos:
Quanto ao texto não entendi o abuso da palavra bicha, tão usado no Brasil, quando a palavra portuguesa é fila. E era de fila que se tratava para esta edição em Portugal. Quanto à capa não gostei, deveria ter sido algo mais de impacto do que a foto que foi escolhida e que a meu ver é pobre para a grandiosidade do romance. 


Tomasz Jedrowski

Acreditar


 

Podemos acreditar que tudo que a vida nos oferecerá no futuro é repetir o que fizemos ontem e hoje. Mas, se prestarmos atenção, vamos nos dar conta de que nenhum dia é igual a outro. Cada manhã traz uma bênção escondida; uma bênção que só serve para esse dia e que não se pode guardar nem desaproveitar. Se não usamos este milagre hoje, ele vai se perder. Este milagre está nos detalhes do quotidiano; é preciso viver cada minuto porque ali encontramos a saída de nossas confusões, a alegria de nossos bons momentos, a pista correta para a decisão que tomaremos. Nunca podemos deixar que cada dia pareça igual ao anterior porque todos os dias são diferentes, porque estamos em constante processo de mudança.

- Paulo Coelho -


Óbidos, 4Mai2020 

24/10/22

Filme: Quando se tem 17 anos


 












«.»





Um filme que para além de belo, perturba consciências. Não devia ser assim! 
- O cinema francês para mim está no TOP.

Filme completo em RTP Play

Filme do cineasta francês André Téchiné, um drama romântico sobre o despertar da sexualidade adolescente
Damien (Kacey Mottet Klein), um adolescente homossexual de 17 anos de idade, vive com a mãe Marianne (Sandrine Kiberlain) nos Pirenéus franceses, enquanto o pai está destacado numa missão militar em África. Na escola é vítima de bullying por parte de Thomas (Corentin Fila), filho adotivo de agricultores locais. Para ajudar a mãe de Tom, que se encontra doente e é hospitalizada, Marianne oferece-se para acolher o seu filho. Forçados a morar juntos, a tensão entre os dois jovens torna-se cada vez maior e a relação mais próxima do que poderia parecer à partida. (Fonte: RTP)

23/10/22

Toque Suave


 

Toque Suave, um cliché homoerótico, de Francisco Pascoal que nos informa ao que vem: “este livro é para adultos e descreve cenas sexuais explícitas”, logo na viragem da página 4. Mas é pelo lado de fora, ou seja, na contracapa que tem um pequeno texto descritivo do que constitui o presente livro: “Este livro explora vários clichés do estilo homoerótico e constrói arquétipos de jovens homossexuais do século XXI. É possível ler-se, neste romance, uma crítica ao conceito de amor em Platão”. Só esta explicitação é quanto baste para ficar a imaginar o que está lá dentro. São 21 capítulos na sua maioria de pura ereção. Isso mesmo.  E não é preciso entrar em transe para se sentir quase identificado com aquela realidade, sobretudo se o leitor for homossexual. Aos outros pede-se respeito porque afinal a sua heterossexualidade também envergonhará muita família chamada exemplar. É que a grande maioria tem telhados de vidro, pelo que não estão isentos de inocência. Porventura alguns vão-se sentir autobiografados sem, contudo, terem contado nada a ninguém. Mas, Francisco Pascoal desempenha bem o papel de contar o que vai na real das vivências humanas, não importa até a idade em que as mesmas se passam, apesar deste romance se passar numa determinada faixa da adolescência.  O líquido que se move na maior parte do cenário, é a água de uma piscina onde mergulham corpos que inspiram e fazem sonhar num redopiar de fantasias e mais fantasias por corpos quase impenetráveis ao toque, povoadas de espectativas por parte das personagens construídas.   No imaginário veneram-se corpos bem constituídos, esbeltos e musculados, que são um bom elixir para preencher os momentos mortos da vida, enquanto se espera acontecer. Enquanto não acontece, imagina-se, e imaginação é o que não falta neste romance cujo título “Toque Suave” já por si nos dá um caminho que só através da leitura se pode descobrir se o mesmo se fica mesmo pelo suave.  Depois do toque suave, devoram-se corpos escaldantes de desejo, onde se explora as carências emocionais tão características da condição humana e sobretudo, mais ainda mais do meio gay. Surgem pelo caminho inquietações e frustrações de personalidade, quando o objeto de desejo afinal é momentâneo, efémero, descartável. 

As pessoas só querem desfrutar da propriedade do corpo enquanto tiver sabor e se associado a fama, torna-se o objeto apetecível, mas quando algo diferente aparece, sem escrúpulo, descarta-se e muda-se de hospedeiro onde povoam novas fantasias e de prazeres sem limites. A autoestima alimenta-se de egos desmedidos. A vulnerabilidade está a cada esquina, quando não se tomam medidas de equilíbrio. As relações são fúteis, e caracterizam-se por serem temporárias. No universo das personagens, povoam as ironias provocatórias e consentidas e ou premeditadas, consoante os interesses de cada personagem.

Procura-se construir a normalidade das relações eróticas e não só. Os preconceitos não empestam o conjunto das relações do romance, mas por outro lado, ajudam a corroer amizades malsucedidas.

Personagens que alimentam as dúvidas, cheias de indecisões, de apegos imaginários, e outras que são decididas, espontâneas, que concretizam com naturalidade os seus objetivos e são aglutinadores de grupo. 

Neste romance também se explora o caminho a tomar acerca da sexualidade sem constrangimentos. Os adolescentes estão na mesma página de vida, por isso partilham as intimidades e aventuras com a maior naturalidade, sem se importarem muito com o mundo que os rodeia, não os incomoda o que pensam deles.  Também impera o Universo dos fetiches, muito escondido na sociedade em geral, mas que neste romance surge povoado de naturalidade. Quem não tem os seus?

Vive-se, vivendo sem medo de ficar na solidão, basta ter amigos, sobretudo os que ficam para a vida. Temos também a exploração da ingenuidade de comportamentos promíscuos que resultam na contaminação da personagem principal, onde gira toda a história do romance. No melhor pano, cai sempre uma nódoa, que na maioria das vezes ali fica sem nunca mais ter a beleza de outrora. É com as coisas, é com os humanos. É a vida com os dissabores que se ultrapassam de acordo com a sua natureza organizativa. 

As doenças sexualmente transmissíveis são abordadas, sem fazer disso um drama do fim do mundo, mas sempre como uma possibilidade latente nos comportamentos promíscuos com outros gajos. A razão sempre de usar proteção. Essa realidade não é ignorada. Fica-se com a sensação que as relações abertas são tão comuns. E são? É o momento que interessa, não o amanhã que nada se sabe, apenas viver o presente com o prazer a rebolar entre lenções ou simplesmente debaixo de um chuveiro. Quase que apetece dizer que a vida é reles. É só isto? Não tem mais nada?

Vivemos numa sociedade em constante transformação, experimentando várias valências, que no fundo não são novas, apenas reinventadas. Já vem do passado, de geração em geração, sempre à procura do seu ideal de libertação.

No “Toque Suave” se explora que é preciso ter cuidado com as desilusões, mas existem pontes ao alcance para delinear objetivos noutros caminhos.

Olhar para as pessoas e aceitar como elas são, deveria ser um desígnio do comportamento humano, deixa-las libertar-se preocupações relacionadas com preconceitos. 

Encontramos na prosa deste romance, poesia com palavras que nos fazem esquecer que o mundo está inundado de desgraças. Parece tudo tão fácil, mas quer queiramos ou não, é um viver sobre a futilidade, como se nada houvesse amanha, e que tudo termina aqui na materialidade da morte, e dizer ponto final. 

O livro está povoado de muito humor, por vezes mordaz. Tem sal e açúcar em ebulição que leva em alguns dos capítulos até ao orgasmo celestial. É bom auscultar o sentir da adolescência, os adultos que já passaram por lá, andam agora demasiado distraídos com o efémero e tem comportamentos perturbantes e suicidas.

O autor quis com este romance fazer um ensaio literário, pegando num tubo de ensaio, colocar lá dentro as palavras em bruto, e por ação de um agente de calor, fica a observar que da fumaça resultante, surgem novas combinações filosóficas. Platão é uma inspiração, foi para este romance, é um campo basicamente filosófico onde a teoria toca a realidade, mas a realidade é por vezes o somatório materializado de muitas teorias. Mas isso fica para outras abordagens.

.

Texto e Foto: © João Eduardo

Página de Francisco Pascoal: Aqui


05/10/22

Teatro: Os três irmãos


Trabalho com movimentos, e não com palavras, o que vai tornando progressivamente difícil escrever sobre os meus espectáculos. Mas uso muitas vezes as palavras como ponto de partida, como meio e até como fim. Acabo quase sempre por retirá-las da boca dos intérpretes, ou por calar os autores. Desta vez não: as palavras de Gonçalo M. Tavares estão presentes e surgem no espectaculo para serem lidas, não ditas. A força da sua presença é por isso diferente – são palavras que não se ouvem, mas que conduzem o espectador.

Victor Hugo Pontes (Direção Artística)


Foi no Teatro José Lúcio da Silva em Leiria que pude presenciar a peça “Os três irmãos”. Numa sala a meio gás de espectadores, ainda assim valeu a pena observar o trabalho em palco de três excelentes actores que encarnaram muito bem o texto escrito por Gonçalo M. Tavares. Depois das luzes apagadas, todos os sentidos se concentram num palco inclinado, onde se passa toda a tragédia familiar da morte. O que se vê é toda uma coreografia de corpos em movimentos contínuos, onde povoam espaços de silêncios, outros de música inteligentemente bem conseguida para que ficássemos cada vez mais atentos ao que se ia passar a seguir a cada representação. Esta representação em palco obriga a um duplo exercício, olhar em direção ao cenário de palco e ao mesmo tempo seguir a legendagem num pequeno dispositivo electrónico pendurado no tecto. Não se ouvem palavras com os ouvidos, vêem-se palavras com os olhos. Esta forma de narrativa, obriga-nos a estar atento a todos os movimentos que surgem no horizonte de todos os sentidos. Para além de quase tudo, o que me impressionou foi o ritual de morte e funeral simbolizado em torno de uma banheira de água onde os irmãos se lavaram, e no seu transporte pelo palco. 

João Eduardo